Toco nas teclas do teclado com unhas bem grandes, que fazem um som de tic-tac engraçado e inquieto. Eu espero pelas palavras na ponta dos dedos como se minha língua estivesse ali também, certa do que quer dizer. Eu deixei de escrever por muito tempo pois não sabia o que queria dizer, nem se queria dizer mais, ou se tinha algo que pudesse ser dito. Antes eu escrevia para aliviar a dor, mas agora que estou sarada, escrevo por quê? Pra quê? Acho que me perdi. Acho que perdi a dor e agora não sei sobre o que dizer.
Por anos sonhei com os dias em que eu não pensaria, 24 horas por dia, na ferida profunda no peito. Os dias são esses e vou contar o que tenho feito. Trabalho cuidando de uma menina sapeca de seis anos, vou a academia todos os dias, leio blogs escritos por mulheres, faço receitas novas e praticamente não como mais arroz e feijão, cozinho todo santo dia e passo muitas horas em silêncio. Só vejo meus pais e minha família pela tela de um celular, vou ao cinema regularmente e tenho um namorado amoroso e paciente que me apoia em tudo!
Às vezes tiro uma soneca (a famosa siesta) depois do almoço e falo um segundo idioma 24/7. Ocasionalmente, faço trabalhos de revisão de texto; também dirijo um carro automático e a maldição é ter que dirigir para toda e qualquer atividade. Sinto falta de andar para tudo o que quero fazer.
Comecei um desafio de escrever textos e compartilhar o que leio como exercício artístico de quem quer viver escrevendo. Não mais como quem almeja publicar ou ser reconhecida, mas como quem escreve porque precisa, porque vibra com leituras e palavras, porque explica detalhadamente porque se é assim, porque honra e ama a Deus por tê-la feito apegada aos livros e ao silêncio, porque clama por misericórdia às vezes sem dizer uma palavra.
Aqui, outra vez me apresento, desafio e despeço. Amanhã tem mais.