Eu sonhava com lentes novas há anos. Quando se tem pouco, gasta-se com o que é muito necessário, as extravagâncias são calculadas. Em casa costumávamos usar câmeras compactas de baixa resolução com inúmeras opções de filtros e efeitos especiais. Eu não gostava daquilo.
Meu apreço pela fotografia começou pelo desejo de ter fotos de alta resolução e logo que pude tratei de realizá-lo. Comprei uma câmera semi-nova com acessórios importantes. Dois meses depois conheci um amigo fotógrafo que virou um amor.
Em 395 dias de vida à dois tivemos muitos registros alegres de tudo o que vivemos. Foi um carinho na alma. No dia 396 novos registros precisaram ser feitos porque a vida deixou de ser compartilhada dessa maneira. Me lembro de lamentar tantas recordações e dispensar convites para ver qualquer pessoa.
Muitos amigos queridos abraçaram meu coração e me convidaram para caminhar e fotografar e ser fotografada. Que delícia ser vista por outras lentes! Que passo importante e suave na alma para a cura.
Retribuí o aconchego e carinho a quem ainda se vê pequena, mas é grande. Não há problema. Que cada um viva o que tem que viver e renasça sempre que necessário. Que as lentes com as quais vemos a vida se quebrem, mostrando-nos a realidade sem efeitos nem filtros. Que à olho nú nos vejamos grandes e urrando coragem para enfrentar cada dificuldade. Que tenhamos cada vez mais lentes com luminosidade para que o que deve ser visto, seja de fato. E que, tenhamos tempo de repousar os olhos, ver as marcas do tempo como lembranças de tantos renascimentos causados pelas mudanças das lentes. Há tempo para tudo.
*Dedico o texto com carinho a minha Priscila Pessoa